MINHA OPINIÃO SOBRE OS CAMINHOS, ACERTOS E ERROS DO NOVO BOTAFOGO
CARLOS HENRIQUE
Meus caros, esta postagem será um "textão", colagem de vários pensamentos, coisas que ando conversando com Paret, filhos, e amigos botafoguenses. Deveriam ser três postagens, sobre a parte estratégica, a tática e a operacional, mas acho que lançar as 3 separadas no tempo poderia perder a coesão e a temporaneidade.
ESTRATÉGIA:
Textor já deixou bem claro os caminhos que traçou para o clube: ser parceiro dos torcedores, co-owner, e trazer a melhor experiência possível e, por fim, criar uma rede multiclubes que fortaleça cada um deles, atendendo torcedores, o financeiro, e fortalecendo o futebol.
Enxergo isto desde a vinda do que chamei de jogadores estagiários, os tais Dylan Talero, Darius Lewis, e vários outros, nacionais e internacionais, sendo o mais notável o americano-finlandês Niko Hämäläinen.
Pegando este último, jogador nascido na Flórida, filho de finlandês, com direitos vinculados a clube inglês (QPR) e jogando na liga americana (MLS). Veio para cá, ficou 3 meses, conheceu o Brasil, conheceu um pouco do nosso futebol, jogou 17 minutos na Copa do Brasil, colocou no curriculo que atuou pelo Botafogo, e provavelmente voltou valorizado uns 5 a 10%.
Já os demais garotos ganham uma oportunidade no time B, evoluem, se valorizam bem mais, e poderão ter um futuro interessante na MLS ou outra liga secundária e endinheirada. É onde Textor vai ganhar dinheiro, circular esses jogadores intermediários e arrumar colocação para eles em outras ligas, ganhar 20 a 25% em dólar em 1 a 2 anos.
Pelo lado do Botafogo, se torna atrativo para jogadores iniciantes, abre a porta para diversos mercados. Vendo com calma, a coisa corre também na outra direção, é o caso dos 5 que foram para o clube belga, RWD Molenbeek, que disputa a segunda divisão do futebol belga, chamada de Challenger Pro League.
E analisando os 5 jogadores que saíram daqui emprestados para a filial belga do Textor, Ênio havia queimado chances, oscilando bons jogos com outros apagados, e incidentes de indisciplina. Ia por caminho pior do que Sassá, que pelo menos havia conseguido boas atuações em Libertadores. É a chance dele de conseguir evoluir, e com 21 anos talvez transitar por ligas secundárias da Europa. Rikelmi também terá alguma oportunidade de evolução e valorização, e considero difícil a colocação dele no mercado pela baixa estatura.
Já Juninho eu vejo como investimento, morar um tempo na Europa, aprender a disciplina tática do futebol de lá, amadurecer, aprender inglês, outras culturas, vivência, e talvez possibilidade de jogar mais minutos do que teria no Botafogo B. Acredito que poderá voltar daqui um ou dois anos para atuar no time principal.
Já Barreto, aos 26 anos de idade, pode estar tendo a oportunidade de se colocar no futebol europeu, algo que ele não teria mais. Após ter transitado por Nova Prata, Criciúma, Red Bull, Ponte Preta, e nessa idade, sem ter obtido destaque, ficaria no banco do Botafogo ou iria para o time B. No máximo, despertaria interesse de times intermediários da série B, onde poderia ter algum destaque. Sair foi a oportunidade da vida dele.
Já Oyama pode ter sido um erro, e mais no final digo que pode ser junto com a saída mal explicada de Erison, nossa salvação. Oyama não é craque, não é nosso melhor volante, mas tem espaço fácil na série A. Aposto que será destaque nessa série B da Bélgica.
Já a saída por empréstimo de Erison para o Estoril, que não saiu publicada na última postagem e vem sendo muito questionada, pode ser ótimo para ele. Também pode ser ótimo para o Estoril, pode ser muito interessante para o Textor e para toda rede de multiclubes, mas tenho convicção que não é boa para o Botafogo.
Com erros e acertos essa estratégia tem tudo para ser bem sucedida no longo prazo, independente do que acontece no clube neste momento.
TÁTICA:
Bem, tenho lido alguns perfis do Twitter sobre análise tática (@FootureFC e @Fogostats, por exemplo), e baseado nisso fui montando meu entendimento do que é o trabalho do Luís Castro. Dessa leitura comecei a fazer meus palpites de escalação, não a escalação que eu gostaria, mas a escalação que corresponde ao padrão do Castro e achava que ele faria.
Depois de oscilar muito, ter muitos desfalques, e fazer diversas variações, com saída de 3 com Daniel Borges na esquerda, com 3 zagueiros usando Carli, fazendo linha de 5 usando até o Piazon para isso, agora Castro vem se firmando em um 4-3-3 que oscila para um eventual 4-1-4-1 ou 4-4-2, ou outras formações.
Mas o principal, ele segura um pouco o lateral esquerdo Marçal, e libera mais o lateral direito, e por isso a preferência dele pelo Saravia, sendo que o atacante pela esquerda é agudo (Jeffinho), e o da direita tem que compor mais a defesa, por isso as vezes usou Piazon nesta função, transformando o esquema praticamente em um 4-4-2. A saída é tocando, evitando a bola longa, e Tche Tche e Lucas Fernandes, que atua praticamente como um segundo volante, vem buscar mais o jogo. Eduardo atua chegando no ataque e tendo liberdade para triangular com os lados.
Quando o lateral direito (Saravia) sobe, cabe ao atacante da direita (Victor Sá) fechar para o meio e Marçal ficar para montar a linha de 3.
Junta-se a isso a marcação alta, pressionando a saída de bola, de preferência marcando forte em todos os setores do campo.
O esquema é de bastante disciplina tática, e provavelmente tem influência do futebol inglês, lembrando que as ligações comerciais da cidade do Porto com a Inglaterra são históricas. E esse esquema precisa de treino e entrosamento. E aí vai uma resposta para Textor, que em uma entrevista disse que o futebol que se joga aqui é o mesmo do mundo todo. Não, não é. Nossos jogadores, e técnicos, não estão acostumados com essa disciplina, nossos jogadores "saem do esquema" muito facilmente, e essa costuma ser a dificuldade de adaptação por lá, por isso alguns fazem bate e volta.
Por outro lado, mesmo Garrincha sendo só um na história, por aqui estamos acostumados a ver jogadores, alguns até bem perebas, ter 5 minutos, ou 5 segundos de Garrincha. E com isso vemos um Pimpão fazendo gol de bicicleta, ou Hyuri fazendo um gol antológico contra o Coritiba no Maracanã. E desmontando toda a tática pensada, elaborada e treinada.
O esquema do Castro então precisa de jogadores muito qualificados, com muita disciplina tática, e pouquíssimos erros. O time fica espaçado em campo, um erro deixa a defesa vulnerável a qualquer 1-2 do adversário, ou qualquer jogada em velocidade onde o adversário saiba ganhar bem no 1 contra 1. Com isso sofremos contra os times de menor investimento, reativos, tomando contra ataques e sem conseguir furar a defesa deles, e também sofremos contra os mais qualificados, onde a tática perde do individual. Só vamos bem contra times iguais ou piores tecnicamente mas que buscam propor o jogo - e foi isso que ocorreu contra o mistão do Flamengo, até ser reforçado no 2o tempo, ou do Atletico-PR, ou Inter, ou São Paulo - o que nos deixa em situação complicada.
Somos presas fáceis, enquanto Castro não conseguir compactar as linhas e não fornecer uma boa cobertura a defesa. Ele quer volantes leves, que avancem, tenham bom passe e compartilhem a criação. Nossa entrada da área dá espaço para o adversário. E aos contra ataques, nem se fala...
O fato é que Castro tem seu desenho tático e, ou o jogador se adapta, ou então busca-se outro. Ele não está adaptando o esquema dele ao elenco. Se tínhamos 11 jogadores que não cumpriam o esquema do treinador, a decisão de Textor não é trocar o treinador, troca-se os 11 jogadores.
Essa tática pode prosperar? Acredito que sim, e bem, mas não esse ano.
OPERACIONAL:
Dito tudo isso vamos ao operacional, a execução da estratégia e da tática. Poderíamos chegar a conclusão que o problema está aqui, e sim, está, mas não na execução exatamente, mas sim em um erro de avaliação. Chegaremos lá.
Já falei que dependemos de um elenco qualificado e muito treinado, por muito tempo, de forma a cumprir milimetricamente a tática e com pouquíssimos erros, pois a tática propicia que o menor erro seja praticamente fatal.
Mas o que vemos é o time sendo qualificado, com contratações se não de impacto, mas de jogadores experientes, inclusive com vivência no estilo europeu, facilitando a adaptação a Castro. Então vemos a vinda de Sampaio, Lucas Fernandes, Piazon, Gabriel Pires, Gustavo Sauer, etc.
E mais recente as vindas de Tiquinho Soares e Junior Santos, que culminaram com o empréstimo do nosso artilheiro Erison. Erison é limitado, não tem visão de jogo, ele é um 'rompe linhas', pega a bola e vai em frente e ninguém o para. Faz também um bom pivô, mas nisso o Matheus Nascimento até se sai melhor.
Então o que vemos é que jogadores foram contratados, o elenco foi encorpado, mas não chegaram medalhões ou jogadores claramente fora-de-série.
Então o que está acontecendo de errado? É só uma questão de tempo? Diria que sim e que não.
Na minha observação há um erro de avaliação. Achar que segunda divisão do futebol belga equivale a segunda divisão do futebol brasileiro. Achar que primeira divisão do campeonato português equivale a primeira divisão do campeonato brasileiro. E aqui eu coloco de forma explícita, com números, o meu ponto.
O que é o futebol português? Portugal é um país com dimensões menores que São Paulo, população talvez menor que a do Rio de Janeiro, deve ter uns 10 milhões de habitantes. Tem Porto, Benfica, e talvez um Sporting, um Boavista às vezes em boa fase. Primeira divisão do futebol português tem dinheiro, algo que não é comum ao futebol brasileiro, mas no final das contas não é mais que um campeonato paulista, 3 ou 4 times que se alternam como principais, e outros que orbitam pelo campeonato.
E a primeira coisa que pensei ao se falar em empréstimo do Erison vem sendo falada por comentaristas, alguns até pouco recomendáveis:
PVC não crê em culpa de Luís Castro no Botafogo e indaga: ‘Erison é pior que Júnior Santos?
Diria mais, Tiquinho é tão melhor que Erison e Junior Santos? Quem é Tiquinho?
Basta olhar o currículo dele, jogou por aqui em América-RN, Botafogo-PB, Souza, Pelotas, até ir parar em time menor do futebol português, se adaptar, e brilhar por 3 ou 4 temporadas no Porto.
Isso se choca com a frase de Textor: "apenas três jogadores tinham experiência na Série A, e para construir um
time para não ser rebaixado e ser competitivo tem que ter 27 jogadores
que saibam jogar a Primeira Divisão". Que experiência Tiquinho tem em série A? Série A de Portugal? Da Grécia?
E aí eu estou fazendo uma aposta. Erison merece, a história de vida dele é dura e de superação. Vai jogar na Europa, não importa se será banco, que carreira fará. Pode não desenvolver e ficar até pela 2a divisão em Portugal. Se fizer isso receberá em euros, terá a qualidade de vida de Portugal, ganhará uma experiência e dará uma condição à família que nunca teria imaginado.
Mas acho que ele evolui, e vai se destacar. Assim como aposto que Oyama vai brincar de jogar bola e se destacar na segunda divisão do futebol belga, que após a análise rasa que fiz sobre o futebol de Portugal diria que pode estar no nível da segunda divisão do futebol carioca. Esse é o erro de avaliação que eles fazem. Um jogador do Mirassol não é a mesma coisa que um jogador do RWD Molenbeek, o nível de competitividade aqui é muito mais alto. Li que o Molenbeek tem excelente estrutura, creio que qualquer coisa na Bélgica seja muito organizada, mas o Mirassol é um importante clube paulista de formação, do interior, com estrutura e que vem disputando muito bem o campeonato paulista.
Reforçando meu pensamento, desde o início da pandemia passei a morar em Saquarema, Região dos Lagos do Rio de Janeiro e um dos mais de 5 mil municípios desse nosso Brasil. Com somente 100 mil habitantes no município, temos aqui o Boavista na primeira divisão do futebol carioca, e que joga Copa do Brasil e divisões inferiores, série D ou C, do Brasileirão. Mas sabemos o quanto é estruturado. Aqui nessa cidade ainda temos um Sampaio Corrêa, não o do Maranhão, e este joga segunda divisão do carioca. E conheço pelo menos mais uns 4 ou 5 clubes com times amadores, alguns com jogadores que podem virar profissionais a qualquer momento. Ou seja, falar em 5 a 10 mil clubes profissionais ou semi profissionais no Brasil não é exagero, mas não fui buscar tais números. E nosso país deve ter tranquilamente uns mil times em condições de disputar segunda divisão de campeonato belga. O próprio Botafogo B, que empatou dois amistosos com time da segunda divisão do paraibano, e perdeu para o Serrano da segunda divisão do carioca, poderia jogar lá sem dificuldade.
Então, enxergar que Erison é um jogador com formação carente, que não tem boa visão de jogo e tem dificuldade nos passes, o que o faz mais fominha, é algo que os torcedores viram. Achar que ele tem que evoluir e lá no Estoril isso pode acontecer, eu concordo. Mas porque Castro e sua comissão técnica de 1,5 milhão não tem capacidade de fazer isso? Terceirizaram a tarefa, é uma escolha.
Mas creio que essa escolha, simplista, se baseou na visão de que Junior Santos é melhor que Erison, que Tiquinho é muito melhor que os dois, e eu tenho sérias dúvidas se isso é verdade. E aí está, na minha opinião, o erro de avaliação de Textor e Castro que estão fazendo o operacional patinar e não sair do lugar.
O sucesso do Erison e de Oyama, e até do Barreto e dos garotos, pode abreviar essa percepção por parte de Castro e Textor, e fazê-los olhar com outros olhos para o próprio Erison e o Oyama e também para Gatito, Daniel Borges, Matheus Nascimento, Jeffinho e Carli. Valorizar o que vêem em adversários, valorizar a observação de uma Copa São Paulo de Futebol Junior, valorizar buscar jogadores que se destacam em estaduais, como fizemos com Chay, um craque em potencial mas que não teve uma carreira adequada no futebol, por falta de empresário, e se tornou um jogador com vários problemas de fundamento.
Enquanto isso não ocorre iremos ter um certo sofrimento, e um risco de zona do rebaixamento rondando, mas com pequena possibilidade de cair porque o elenco tem qualidade e muitas opções.
Se Castro resolver os problemas táticos de compactação, que abrem o caminho para os adversários reativos tais como Avaí, Goiás, Coritiba, Atlético Goianiense, poderemos sobreviver e aí buscar vaga na Sulamericana. Se ele não abrir o olho vamos ter que torcer até o final do ano para evitar o rebaixamento.
Vamos torcendo. Estarei de olhos nesse jogadores fora do país. Já estou olhando a tabela da segunda divisão belga e aguardando a estreia dos nossos. Agora vou começar a acompanhar o Estoril.
Abraços.
PS: finalizando este texto, vejo notícia de Vinícius Lopes indo para o RWD Molenbeek. Mais um que terá ótima oportunidade de crescer pessoalmente, e que nas condições atuais do Botafogo não teria espaço. Este é um negócio bom para todo mundo.