Caros amigos,
Tentarei fazer uma
análise fria do que vem acontecendo, um texto longo. Percebo que estamos tentando, e
que com um pitaco aqui, uma frase ali, uma outra opinião e já está
tudo explicado. Mas nossa paixão pelo Botafogo acaba nos
complicando, e às vezes as coisas não ficam tão claras assim.
As dúvidas são
lançadas repetidamente. Eu, da minha parte, insisto em falar na
montanha russa e no carrossel, sem entender porque tanta mudança de
desempenho e tanta volta sem sair do lugar.
Nos comentários da
postagem anterior o Orlando fez uma comparação, jogador por
jogador, do time do Botafogo vs o time do Atlético-MG, e terminou
questionando o porque de tanta diferença de desempenho. É uma
explicação para isto que busco com esta postagem.
Não que eu chegarei a
um veredito, mas tentarei formar uma opinião a partir de tudo que já
discutimos. Certamente os comentários de todos nós, como sempre,
completarão este mosaico, um verdadeiro quebra-cabeças, que é o
futebol apresentado pelo Botafogo.
Meu ponto de partida
foi a frase do comentário da Mariana: “jogamos como nunca,
perdemos como sempre”. Em um primeiro momento concordei plenamente.
Em seguida, li a mesma frase no Lancenet (será mera coincidência ou
serão nossos leitores? Conferi lá, a postagem deles saiu 1 hora e
34 minutos depois do comentário da nossa amiga).
Depois desta segunda
leitura a coisa martelou na minha cabeça. Não estou querendo
discordar da Mariana, pelo contrário, a frase deu aquele estalo, me
fez refletir, e até a achar que ela perfeitamente também poderia
ser reescrita como “jogamos como sempre, e perdemos como às vezes”.
A minha primeira
observação é que vinhamos de uma vitória, contra o Sport. Segundo
foi refletir: exatamente o que o Botafogo fez diferente neste
domingo? Sem dúvida jogamos melhor, mas porque?
Então comecei a buscar
ajuda dos meus principais “colegas”, os números. Para começar
Orlando comentou:
Resumo
deste jogo:
O Botafogo teve mais posse de bola (53%). Mas foi
o Atlético-MG que finalizou mais (18 contra oito) e teve mais
chances reais de gol (11 contra três).
Ta aí a diferença
entre os times, um tem técnico objetivo e outro que tem técnico
teórico.”
Estes
números confirmam uma reportagem anterior ao jogo, que informava que
nas 17 rodadas anteriores, só em duas partidas o Botafogo não teve
mais posse de bola. Ou seja, repetimos a performance, tendo mais
posse de bola.
Então
fui olhar nossos resultados: 8 vitórias, 3 empates e 7 derrotas.
Vencemos quase tanto quanto perdemos. Deste ponto fiz mais uma
pesquisa, e constatei que somente em 4 partidas, contra São Paulo,
Corinthians, Bahia e Sport, a partida terminou com 2 ou mais gols de
diferença, o que explica nossos 30 gols feitos e 24 sofridos.
Minha
primeira conclusão, até óbvia, é que o Botafogo consegue
complicar qualquer jogo, seja o adversário frágil ou forte. Como o
Atlético-MG é um excelente time, tivemos ótimo atuação. Como o
Sport é fraco e se propôs a se defender e contra-atacar, jogamos
mal.
É
aquela característica típica, o time joga mais quando o adversário
sai e se propõe a atacar, quando dá espaços no meio e na defesa.
Quando encaramos uma retranca as coisas não funcionam bem, pois
falta a agressividade e contundência, em parte pelas características
do meio, em parte pela falta de atacantes.
E
aí vem o segundo fator, também óbvio: a zaga é fraca. Fraca pela
característica do Fábio Ferreira, jogando torto, do lado inverso,
lento na marcação, e sem saber sair jogando, e pela má fase do
Antonio Carlos, que tem se mostrado desatento e meio displicente. Mas
o principal, já apontado por todos, Luiz, Legend, Braso, Orlando,
Paret..., o meio e os laterais deixam a defesa exposta.
Talvez
isto valha uma análise detalhada dos gols que fizemos e sofremos,
mas vejam a jogada do nosso primeiro gol. Andrezinho toca para
Elkeson, nosso único “atacante”, que avança aberto, como um
ponta ou segundo atacante, e cruza, para Jadson tentar empurrar a
bola, que acaba sobrando para Andrezinho fazer o gol. Normalmente é
assim, a jogada de ataque acaba envolvendo laterais, meias, volantes,
e somente assim funcionam.
No
caso dos nossos contra-ataques, eles normalmente não acontecem, pois não há
homens de referência na frente. Isso fez com que no início do
campeonato nosso goleador fosse o Herrera, que nunca foi goleador e
normalmente jogava como segundo atacante e agora é o Andrezinho, meia,
único na lista dos 12 principais goleadores deste campeonato, toda
feita de atacantes.
Nossos
gols não saem por acaso, eles dependem da mobilização de muitos
jogadores, o que deixa a defesa sem proteção. Não estamos jogando
com volante de contenção. Renato não joga assim, Jadson é mais de
sair para o jogo, se recuar Seedorf teremos a mesma coisa. Amaral
pode ser este jogador, assim como poderia ser o Mattos. Zen fazia
esta função, mas acabava tendo mais a característica de cercar as
jogadas.
Outro
capítulo são os laterais. Já foi muito falado que temos alas, e
não laterais. Azevedo e Lucas são melhores apoiando do que
defendendo. Mas ambos vem jogando mais como laterais, saindo menos,
até porque nossos volantes não cobrem muito. Perdemos
ofensivamente, e não nos resolvemos defensivamente.
Dito
isto acho que conseguimos entender: qualquer resultado se torna
razoável nas partidas do Botafogo. Tanto é verdade que quase todas
partidas se encerram em aberto, 3 empates e 11 partidas encerradas
com um gol de diferença, que poderiam ter qualquer placar diferente, nos deixando na expectativa da coisa mudar a qualquer momento.
Nossos gols não são por acaso, nem os que fazemos, nem os que
sofremos, mas nossos resultados são por acaso. As casualidades,
bobeiras e aproveitamentos, de cada jogo, é que ditarão o
resultado: empate, vitória ou derrota. Por isso vemos uma montanha
russa, por isso vemos um carrossel que não sai do lugar.
Por
isso a impressão de que jogamos como nunca contra o Galo, e na verdade fizemos
o mesmo de sempre, de acordo com o que o adversário permite. Jogamos
de igual pra igual com quem for, Galo, São Paulo, Sport, Portuguesa,
Figueirense. O único que saiu do roteiro foi o Bahia.
E
perdemos como sempre, em bobeiras ou lances que parecem casuais.
Assim como nossas vitórias parecem ter acontecido assim, por acaso.
Minha
conclusão é que temos um padrão de jogo que não é eficiente, que
é dependente do momento dos jogadores, e é totalmente vulnerável
às decisões tomadas pelo adversário. Nosso padrão é extremamente maleável, muda de acordo com as conjunturas. Por isso a sensação de não ter padrão.
Por
incrível que pareça, tentarei apontar duas ideias totalmente contestáveis para mudar esta
forma de ser das coisas. A primeira é obter definitivamente um
atacante. E a opção que vejo no momento é o Rafael Marques. A
aposta já foi feita, já tivemos paciência, então que se banque
definitivamente e o coloque em campo, de atacante, os 90 minutos.
Segundo,
precisamos de um volante de contenção. Definitivamente ele não é
o Renato, o Seedorf ou o Fellype Gabriel. Se será Amaral, Gabriel,
Ulisses, Brinner, Fábio Ferreira ou Antônio Carlos, sinceramente
não sei. E para quem estranhou a minha lista, não seria nada
esquisito improvisar algum dos nossos zagueiros mais a frente da
zaga, como primeiro volante. Se vai funcionar é outra história, mas
o fato é que precisamos de alguém ali, até porque precisamos de um
segundo volante que chegue bastante ao ataque, pois já vimos que o
time tem esta forma de jogar, precisando da chegada de um volante e
do apoio dos laterais.
Acho
que esta é nossa realidade. E junto com ela vem uma constatação
triste: os números nos mostram que é bem difícil revertermos a
situação na quarta-feira, abrindo dois gols de vantagem sobre o
Palmeiras.
Mas
somos botafoguenses, e temos esperança. E o Palmeiras está cheio de
desfalques. Creio que apoiar é o que podemos fazer. E torcer que
Osvaldo de Oliveira coloque Rafael Marques logo de início, e banque
um meio de campo bem ofensivo, talvez com Jadson, Renato, Elkeson,
Andrezinho e Seedorf. É, o primeiro volante fica para outro jogo,
este é para se partir para cima.
Abraços.